quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A verdade sobre a criação da AMEA e o rompimento com a LMDT

AMADORISMO X PROFISSIONALISMO E O ROMPIMENTO DA LMDT E CRIAÇÃO DA AMEA


Estadual de 1923
A versão do Vasco da Gama

1923. O ano em que o Vasco chutou o racismo no futebol 

 A extinção do racismo no futebol

Este texto foi compilado de uma série de crônicas publicadas em 1974 pelo Jornal dos Sports, na coluna Uma Pedrinha na Chuteira, assinada pelo Zé de São Januário (pseudônimo do jornalista Álvaro do Nascimento).


Em 1923, uma equipe considerada pequena, que acabara de ser promovida a primeira divisão, conquistou o campeonato carioca. Como se isso não bastasse para provocar a ira dos aristocráticos clubes grandes, o campeão era formado por trabalhadores de origem humilde, brancos, negros e mulatos, sem dinheiro nem posição social. Este campeão era o Vasco da Gama.


Naquela época, o racismo imperava no futebol brasileiro. Em 1921, era debatido se jogadores de cor deveriam ser convocados para os importantíssimos confrontos entre a seleção brasileira e a da Argentina.
Como vingar-se do atrevimento do Vasco? Os clubes aristocratas reuniram-se e deliberaram excluir jogadores humildes, sob a alegação de que praticavam o profissionalismo.
Numa sessão realizada na sede da Liga Metropolitana, Mário Polo, o presidente do Fluminense, apresentou as condições impostas aos chamados pequenos clubes. Estes teriam que apresentar condições materiais e técnicas e eliminar de seus quadros sociais jogadores considerados profissionais, constantes de uma lista que foi lida no momento.
A confusão e as vaias explodiram no recinto ao término da exposição feita por Mário Polo.
Finalmente usou da palavra Barbosa Junior, do S.C. Mackenzie, representante dos chamados pequenos clubes, condenando o racismo dos grandes clubes, uma vez que os jogadores atingidos eram apenas os mulatinhos rosados do Vasco, Bangu, Andaraí e São Cristóvão, sendo o Vasco o mais prejudicado de todos. Os arianos do Fluminense, Botafogo, Flamengo e América nem de leve foram tocados.
Os aplausos calorosos da enorme assistência a Barbosa Junior deixaram a Mário Polo desapontado. A confusão foi de tal ordem que a sessão foi suspensa por dez minutos, durante os quais Mário Polo e Ari Franco, o representante do Bangu, retiraram-se juntos para uma das salas onde conversaram secretamente.
Vendo seus planos irem por água abaixo, os clubes grandes decidiram que se afastariam da Liga Metropolitana, formando uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos. Estava decretada a cisão do futebol carioca.
Mário Polo e seus comparsas calculavam que os chamados pequenos clubes ingressariam cabisbaixos e humilhados na nova entidade, submetendo-se às suas regras discriminatórias. Bangu e São Cristóvão, que possuíam jogadores atingidos pelo racismo, confirmaram as expectativas dos grandes. Os demais fatalmente seguiriam essa opção, não fora a atitude desassombrada do presidente vascaíno Dr. José Augusto Prestes e da diretoria do Vasco, enfrentando com galhardia a campanha racista, apoiado pelos outros pequenos clubes.
Um ofício assinado pelo presidente do Vasco foi enviado a Arnaldo Guinle, presidente da AMEA, declarando publicamente que negava-se a participar da nova entidade. Esse documento histórico, transcrito abaixo, deu origem a extinção do racismo no futebol.
Eis o teor do ofício:
Rio de Janeiro, 7 de abril de 1924
Ofício no. 261
Exmo. Sr. Arnaldo Guinle, M.D. presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama em tal situação de inferioridade que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.

Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma como será exercido o direito de discussão e voto, e as futuras classificações, obriga-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto a condição de eliminarmos doze (12) jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama, não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos con-sócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se a AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores jovens quase todos brasileiros no começo de sua carreira, e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de glórias.

Nestes termos, sentimos ter de comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.

Queira V. Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever de V. Exa. Att. Obrigado.
Dr. José Augusto Prestes
Presidente
Este ofício do C. R. Vasco da Gama esclarece com precisão os motivos que levaram o hoje poderoso clube de Sao Januário a afastar-se dos chamados grandes clubes, ficando ao lado dos pequenos. Isso deu ao Vasco a maior popularidade e admiração já alcançada, até aquela época, por clubes desportivos do Rio de Janeiro.
O presidente do Vasco, em declaração pública, afirmou que só voltaria ao seio dos grandes clubes quando o Vasco fosse maior do que todos eles. Para tal coisa conseguir, o Vasco teria que construir um grande estádio.
O reinado dos arianos durou menos de um ano. Em 1925, os grandes clubes, verificando a potencialidade do Vasco, que dentro em pouco apresentaria o maior estádio do Brasil, abandonaram o racismo e remodelaram totalmente o futebol, permitindo a inscrição de jogadores humildes e concedendo ao clube da Cruz de Malta os mesmos direitos dos clubes fundadores da AMEA.
Com a inauguração do estádio de São Januário, em 1927, o Vasco, que em 1924 era o menor dos grandes, transformou-se no maior entre todos os clubes do Brasil.


 Extraído de netvasco.com.br 
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A Versão do Fluminense FC 
NÃO HOUVE RACISMO
O VASCO DA GAMA BURLOU A LEI  DA LIGA (LMDT) POIS OS JOGADORES DO VASCO JÁ ERAM PROFISSIONAIS, OU SEJA, JOGAVAM MEDIANTE PAGAMENTO DE SALÁRIOS E PORTANTO NÃO ERAM AMADORES COMO A MAIORIA DOS CLUBES


O Carioca de 1924- Fonte: Site oficial do Fluminense FC
No ano de 1924, ocorreu mais uma confusão na história do futebol carioca, dois campeonatos foram disputados paralelamente.
Na realidade os problemas começaram no ano anterior, quando o Vasco da Gama, clube da colônia portuguesa no Rio, apresentava em sua equipe gente estranha as tradicionais famílias cariocas da época, jogadores da Zona Norte e dos subúrbios, a maioria negros e mulatos, além de pagar salários a seus jogadores. Burlavam as leis da Liga pois possuía seus jogadores, registrados como funcionários de estabelecimentos comerciais. Os fiscais da LMDT nunca os encontravam, pois os comerciantes diziam que eram encarregados de serviços externos.
No dia 5 de novembro de 1923, Ernesto Loureiro Filho, do Andaraí, clube que também possuía negros e mulatos em sua equipe, foi eleito vice presidente da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres.
Há algum tempo clubes como o Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense e América vinham reclamando dos estatutos da Liga, que davam direito a voto a equipes inespressivas como, o Modesto e o Independência, e que acabavam decidindo os destinos de todas as equipes, mesmo sem possuir sequer departamento de futebol.
Diante das reclamações, os cinco grandes clubes da época, propuseram mudanças radicais, não só administrativas como também na fórmula de disputa do campeonato promovido pela LMDT.
No dia 20 de fevereiro de 1924, foi então convocada uma assembléia geral, onde compareceram 36 representantes, que decidiram por 21 votos a 15 que nada deveria ser mudado.
Mário Pollo, dirigente tricolor, em nome dos cinco grandes clubes, anunciou o rompimento com a Liga e a criação de uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos ( AMEA ), e que por decisão da maioria seria liderada pelo presidente tricolor Arnaldo Guinle.
A AMEA foi logo reconhecida pela antiga Confederação Brasileira de Desportos ( CBD ).
O Vasco e outros clubes de menor expressão e que possuíam jogadores de profissão duvidosa, foram excluídos. Na realidade os jogadores do Vasco já eram profissionais e, jogavam mediante o pagamento de salários, enquanto as principais equipes do futebol carioca eram amadoras.
O Vasco acabou campeão de 1924 pela LMDT e, em 1925, se aliou a AMEA, apesar da antiga Liga ter permanecido em atividade até 1932.
Pela nova Associação Metropolitana, disputaram o campeonato 8 clubes: América, Bangu, Botafogo, Sport Club Brasil, Flamengo, Fluminense, Helênico e São Cristóvão.
O Fluminense, ainda com Fortes e Zezé ( campeões de 1919 ), e as excelentes atuações do atacante Nilo, conquistou o título.

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