domingo, 10 de dezembro de 2017

Entre glórias recentes e finanças desastrosas, o Fluminense tenta se reerguer


O presidente Pedro Abad deu início a uma reestruturação com a contratação de executivos e o corte de gastos supérfluos, mas se vê forçado a vender jogadores, dispensar reforços caros e aturar a pressão


Fonte: Época Rodrigo Campelo 08/12/2017 
O presidente do Fluminese, Pedro Abad, assistia à partida contra o Corinthians na noite daquela quarta-feira, 15 de novembro, de um dos camarotes da Arena Corinthians. Seu time entrou em campo contido, disciplinado. Inaugurou o placar logo no primeiro minuto, com um gol de cabeça do zagueiro Henrique num escanteio, e se postou na defesa para segurar o resultado favorável. O celular de Abad não vibrava. Não havia mensagem nenhuma em seu WhatsApp. A paz dos vitoriosos. Aí veio o segundo tempo. Jô empatou para o Corinthians também no primeiro minuto. Virou o jogo dois minutos depois. Jadson fechou aos 39. O 3 a 1 deu aos paulistas o sétimo Campeonato Brasileiro de sua história. E ressuscitou o smartphone de Abad, agora vibrante por causa dos xingamentos e das acusações de incompetência que chegavam aos montes. Assim é a vida do mandatário carioca. Que tende a ficar mais difícil em 2018.
A posição em que está Abad é talvez a mais árdua do futebol carioca. O dirigente substituiu em 2017 o antigo aliado Peter Siemsen. Foi presidente do Conselho Fiscal que aprovou as contas do antecessor. Então não tem, como um opositor que ganha a eleição, a “vantagem” de culpar a administração interior por todos os malfeitos. Por outro lado, dirige um time que foi duas vezes campeão nacional há pouco tempo, em 2010 e 2012, graças a ídolos como Fred, Conca, Deco. Um jejum de títulos expressivos muito menor do que o de adversários como Botafogo e Vasco. Isso faz com que a torcida tricolor espere um desempenho tão bom quanto o de anos atrás. Uma expectativa sem pé nem cabeça quando comparada à realidade financeira. Enquanto viu o principal rival Flamengo disparar em poderio econômico, , o Fluminense tem graves problemas para pagar suas despesas e dívidas sem arriscar perder seu desempenho esportivo.
 Os números mais recentes mostram o seguinte quadro. Como não tem mais bônus a receber de contratos de televisão, como teve em 2016, o faturamento do Fluminense caiu no terceiro trimestre de 2017 em relação ao mesmo período do ano anterior. De R$ 227 milhões para R$ 183 milhões. Praticamente todas as linhas de receita estão estagnadas: bilheterias, patrocínios, sócio-torcedor. Isso força Abad a trabalhar na outra ponta, a das despesas. Enquanto manteve as remunerações de jogadores e comissão técnica no mesmo patamar da temporada anterior, em torno dos R$ 77,5 milhões até o terceiro trimestre, gastos diversos foram reduzidos para que a conta feche. Mas ela não fecha. Até o fim de setembro, o déficit registrado era de R$ 14 milhões. E a expectativa do cartola é que ele tenha se agravado nos três meses finais até um prejuízo previsto em R$ 52 milhões.
Para tirar o Fluminense do buraco num futuro razoavelmente próximo, Abad começou um processo de reestruturação que foi traçado em parceria com a consultoria EY. O dirigente, que não tem remuneração e administra o clube nas horas vagas de sua rotina profissional como auditor da Receita Federal, trouxe para o cargo de CEO o dirigente olímpico Marcus Vinicius Freire. Marcão, como é chamado nos corredores das Laranjeiras, foi diretor executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) no período que incluiu os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Além dele, foi contratado Eduardo Paez para o cargo de CFO, ou diretor financeiro, um profissional que passou boa parte da carreira nA EBX de Eike Batista. Esses e outros estão incumbidos de gerir o clube como se deve, com expediente, responsabilidades definidas e metas a cumprir.

Os executivos contratados por Abad varreram o Fluminense atrás de gastos que podiam ser reduzidos. Além do futebol, há esportes olímpicos e atividades sociais cujas despesas foram revistas para encontrar onde havia brecha para redução de custos. Um exemplo. Os chuveiros das saunas foram trocados e houve uma economia de água de cerca de R$ 20 mil mensais. Só que esses e outros cortes vão bater num teto. “A redução de custo chega num limite em que não consegue mais ter as atividades funcionando a contento, então você tem de buscar receita. Esse trabalho de buscar receita não é um trabalho que acontece de uma noite para outra, que você gera mais R$ 70 milhões a R$ 100 milhões no orçamento”, explicou o presidente tricolor em entrevista a ÉPOCA. Nesse contexto, a única solução aparente para o curto prazo é a venda de jogadores – justo os que o time precisa para manter um rendimento esportivo aceitável.
A fragilidade financeira pode ser medida pela dependência de um time de futebol aos atletas que vêm de sua base, uma vez que não dispõe de dinheiro para contratar reforços. O Fluminense é um caso cristalino. No Brasileirão de 2017, os jogadores com até 25 anos e passagem pelas divisões juvenis do Fluminense disputaram quase 19 mil minutos de futebol. Foi de longe o clube que mais pôs pratas da casa em campo. O segundo colocado é o Grêmio, campeão da Libertadores com um elenco mesclado entre veteranos e revelações como Arthur e Luan, cujos jovens estiveram em campo por 11 mil minutos. No outro extremo, do clube que despejou dinheiro em contratações de jogadores, está o Palmeiras, cujos jovens tiveram apenas 104 minutos de jogo. Os dados foram compilados pelo site Footstats . E colocam a evidência para aquilo que todo torcedor já tinha percebido de maneira empírica: o técnico Abel Braga só pode contar com jovens atletas no Fluminense. Nada de reforços.
À incapacidade de ir ao mercado para buscar jogadores, diferente dos tempos de bonança nos quais usava os milhões da patrocinadora Unimed para contratar quem quisesse, soma-se a necessidade de se desfazer dos melhores atletas oriundos da base. O meia Gustavo Scarpa, de só 23 anos, tem sobre seus ombros o protagonismo no time das Laranjeiras e as investidas de outros clubes. O Palmeiras tentou tirá-lo do rival no meio do campeonato e causou uma crise nos bastidores do Fluminense. Nesta semana, após o término da temporada para a equipe tricolor, o São Paulo fez uma proposta para trocar a revelação por três Milhões de Euros e outros atletas. Abad resiste como pode, atrás da melhor oferta possível, porque depende dela para fechar as contas. Mas tem ciência de que terá de ceder alguma hora. “É sempre isso. Vende um jogador, pega uma parte e repõe. Faz ele crescer, vende e repõe. Esse é o segredo. Não é comprar ou vender. É você estar sempre fazendo a roda girar. Porque aí você passa a ter uma receita que pode alocar em seu orçamento, sendo conservador, mas pode projetar alguma coisa”, resumiu o presidente.
No intuito de fazer com que essa roda gire com maior eficiência, Abad e seus executivos estão fazendo mudanças no departamento de futebol. O técnico Abel Braga, cuja permanência era incerta ao término do Brasileirão, renovou contrato para mais uma temporada.Mas o gerente de futebol Alexandre Torres caiu.  . O ex-zagueiro foi demitido no início deste mês de dezembro, sem completar nem um ano de contrato, para dar lugar a um novo profissional. Uma pessoa que assumirá a função em meio às circunstâncias relatadas até aqui: incapacidade de fazer investimentos em reforços, necessidade de se desfazer de peças valiosas, responsabilidade de repor com as categorias de base os atletas que forem para outros clubes. Nada a ver com o Fluminense que o torcedor se acostumou, alavancado pelo dinheiro da Unimed, sobretudo nos cinco anos entre 2008 e 2012, de contratações caras e remunerações acima do mercado. Que deixou custos acima da capacidade real do clube. E que não volta mais.

Frases do presidente Pedro Abad diante do desconhecido 2018:

"Entre glórias recentes e finanças desastrosas, o Fluminense tenta se reerguer com uma reestruturação de cargos e despesas. O que o torcedor tricolor pode esperar da temporada de 2018: jogadores vendidos, jovens em campo, nada de reforços caros"

 "A gente pegou o clube em dezembro do ano passado, fizemos uma análise do fluxo de caixa, e era inacreditavelmente desastroso. Conseguimos fazer o clube não parar", diz Pedro Abad, presidente do Fluminense

 "O Fluminense passou 115 anos dentro de um modelo de gestão. Todo nosso corpo político tem conhecimento, mas não é remunerado. A gente resolveu equipar o clube com profissionais", diz Pedro Abad, presidente.

 "A gente está pensando nisso: como aliviar o fluxo de caixa. Pega uma dívida que era para ser paga em um ano, dilui em três, com taxa de juros diferente, e alivia o caixa", diz Pedro Abad, presidente do Fluminense
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Operação Limpidus: Delegada admite que dirigentes podem ser destituídos de seus cargos

Quatro grandes clubes do Rio estão sendo investigados

Fonte: NETFLU 10/12/2017
Em desdobramento da Operação Limpidus, que investiga a relação de dirigentes dos principais clubes cariocas com torcidas organizadas, a TV Globo trouxe detalhes. Gravações de integrantes das Uniformizadas ameaçando outros quanto à distribuição de ingressos e uma importante declaração de Daniela Terra, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI):
– Não vamos afrouxar. Os clubes podem sofrer sanções e se continuarem com essa prática, conforme previsto no Estatuto do Torcedor, sofrerão penas, inclusive, com os dirigentes perdendo seus cargos – disse a policial, que não tem dúvida da relação entre clubes e torcidas:
– Posso afirmar com total certeza que é, sim, uma relação promíscua. Hoje, com essa operação, com toda essa investigação, ficou claro que eles dão ingressos para torcidas, sejam elas banidas ou não do futebol. É uma relação promíscua, coloca em risco. Fomenta a violência nos estádios, fomenta qualquer outro tipo de atitude, fomenta o cambismo. Então, não tem mais espaço para isso.
Os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro estão sendo investigados pela Polícia pela promiscuidade com as Organizadas. Entenda toda a operação abaixo:
Quem está a cargo das investigações?
Polícia Civil e Ministério Público. A delegada Daniela Terra, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), e promotor Marcos Kac, do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST), comandam os trabalhos. Tudo foi feito com autorização do juiz Guilherme Schilling, do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos (JETGE).
Quais os objetivos?
Tanto a delegada quanto o promotor revelaram que a investigação começou em março, após casos de violência entre torcidas, com o objetivo de aumentar a segurança dentro e no entorno dos estádios do Rio.
Como eles pretendem alcançar resultado?
A ideia é, além de coibir crimes, sufocar financeiramente as organizadas. De acordo com o promotor Marcos Kac, as torcidas se financiam com a revenda de ingressos e venda de produtos sem licenciamento dos clubes. “Temos de quebrar esse elo financeiro. Sem isso, não vamos acabar com a violência”, diz.
O que a polícia descobriu?
À medida que a investigação avançou, de acordo com o promotor Marcos Kac, ficou clara uma “relação espúria” entre dirigentes e membros de torcidas organizadas. Os cartolas cediam ingressos a integrantes de grupos, que revendiam os mesmos a cambistas. Foram identificados problemas, além do Flu, no Vasco e no Botafogo.
Como era a relação do Fluminense com as organizadas?
Em depoimento à polícia e depois em entrevista, Abad admitiu ter feito acordo em setembro com torcidas organizadas para ajudar o time a sair da má fase no Brasileirão. Pelo combinado, o clube cedeu 200 ingressos por cada um dos seis jogos que mandou na reta final do campeonato às torcidas Young Flu, Força Flu e Fiel Tricolor. Ele definiu a combinação como pontual.
Como os ingressos eram cedidos?
Os bilhetes eram de meia-entrada, ou seja, o clube arcou com o custo, inclusive de impostos. Não foi pedido pelo Tricolor comprovação de que as pessoas tinham direito legal de receber ingresso com este tipo de benefício.
Houve financiamento de viagens de organizadas?
O Tricolor financiou ainda dois ônibus para o jogo contra o Cruzeiro, em Belo Horizonte, com custo de R$ 10 mil, informação revelada pelo UOL e confirmada posteriormente pelo GloboEsporte.com.
Há algum impedimento legal para ceder ingressos a organizadas?
Não há nenhuma lei que impeça qualquer clube de dar ingresso promocional ou cortesias. A legislação, porém, estabelece que o estudante tem direito à meia-entrada. Em 2008, na gestão Roberto Horcades, o Fluminense assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MP em que se compromete a “adotar controles eficientes para evitar a ação de cambistas”.
Algum crime foi cometido?
O inquérito policial ainda não foi concluído. Por ora, não há indiciamento de ninguém e tampouco denúncia à Justiça. Em tese, as pessoas presas poderão responder, caso seja o entendimento do Ministério Público e do Poder Judiciário, por cambismo. Trata-se do artigo 41-F do Estatuto do torcedor, com pena de reclusão de um a dois anos além de multa.
Quem foi preso e por qual motivo?
Com relação ao Fluminense, três membros de organizadas.  Eles têm prisão temporária de cinco dias, que vence na próxima terça-feira. Segundo a delegada Daniela Terra, eles são suspeitos de revenderem os ingressos cedidos pelo clube a cambistas.
O que foi apreendido?
A polícia cumpriu um mandado de busca e apreensão nas Laranjeiras. Não foi revelado o que foi apreendido.
A investigação terminou?
Não. As autoridades dizem que foi o início de um trabalho permanente para quebrar o poder das organizadas e trazer de volta a paz aos estádios.
O Fluminense, o presidente Pedro Abad ou algum funcionário tricolor cometeu algum crime?
Não. O promotor Marcos Kac diz: “Não se tem como provar que haja conhecimento direto dos dirigentes. Agora, como se diz, não tem bobo no futebol. Essa prática se faz ao longo dos anos”.
Há algum movimento no Conselho Deliberativo para afastar Abad do cargo?
Não. Nenhum conselheiro apresentou requerimento para tal. O presidente também não fez nenhum movimento que indique renúncia ao cargo.
Qual foi a repercussão política no Tricolor?
Bravo 52, Garra Tricolor, Sobranada, Flu Beer e Flunitor, torcidas organizadas, emitiram nota oficial negando terem recebido ingressos e criticando o presidente Pedro Abad. O Flusócio, grupo político de suporte ao presidente, definiu como erro ceder ingressos. Porém, manifestou apoio à gestão do dirigente.
O Fluminense tem algum organizada banida dos estádios?
Não, conforme informação da Polícia Militar.


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