sábado, 10 de agosto de 2019

Globoesporte.com acusa diretoria do Fluminense de descaso com enterro de ídolo do clube. Fluminense rebate acusação em nota

Quarto atleta que mais vestiu a camisa do Fluminense com 551 partidas, o ídolo Altair, de 81 anos, faleceu na madrugada da última sexta-feira. Também nesta última sexta foi sepultado e, de acordo com o portal Globoesporte, o tricolor não mandou nenhum representante e nem coroa de flores ao velório do ex-jogador.

 https://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/campeao-esquecido-enterro-de-altair-campeao-com-o-brasil-em-1962-reune-apenas-18-pessoas.ghtml

ÍDOLO ESQUECIDO: ENTERRO DE ALTAIR, CAMPEÃO COM O BRASIL EM 1962, REÚNE APENAS 18 PESSOAS 

GE Por Sérgio Rangel Niterói RJ 09/08/2019
 

15h17, Capela São Lucas, Cemitério do Maruí, subúrbio de Niterói, na região metropolitana do RJ. Um senhor negro de 83 anos entra lentamente no salão vazio decorado somente com uma coroa de flores. Vestido com a camisa da Seleção, ele para em frente ao caixão, abraça o filho e fica em silêncio por um minuto. Em seguida, o ex-jogador cumprimenta os outros oito presentes no velório até então.
Campeão da Copa de 1962 pela Seleção, Marinho deu um aceno para o amigo no caixão e foi se sentar do lado de fora.



O corpo de Altair, vestido também com uma camisa da Seleção, acabara de chegar ao cemitério suburbano. O ex-lateral morreu aos 81 anos na madrugada desta sexta em São Gonçalo  , município vizinho. Ele foi o quarto atleta a jogar mais vezes pelo Fluminense. Altair atuou 551 partidas pelo tricolor das Laranjeiras. No seu site, o clube publicou uma nota de quatro parágrafos em homenagem ao ex-campeão. O Fluminense não mandou nenhum representante e nem coroa de flores ao sepultamento. Assim como Marinho, Altair também foi campeão pela Seleção na Copa de 1962. Ele era lateral-esquerdo, reserva de Nilton Santos. Marinho jogava na lateral direita e ficou na reserva de Djalma Santos. A CBF enviou uma coroa de flores e determinou um minuto de silêncio em todos os jogos da rodada do final de semana em homenagem ao campeão. – O Magro vai descansar agora. Estamos juntos há mais de 60 anos. O que vale é lembrar da vida com alegria – afirmou Marinho. Fluminense decretou luto oficial de três dias e se manifestou nas redes sociais. No entanto, não mandou representante e nem coroa de flores ao enterro Além de conquistarem a Copa no Chile, os dois foram titulares do Fluminense e moravam na mesma cidade, Niterói. – Ele tinha 14 anos quando nos conhecemos. Íamos e voltávamos dos treinos e jogos juntos. Todo dia cedo nos encontrávamos nas barcas. Jogador não era rico. Tinha que pegar barca e ônibus- conta Marinho, dando uma sonora risada. Ao contrário de Altair, que só vestiu a camisa do Fluminense, Marinho jogou também pelo Corinthians, Portuguesa, Vasco e Campo Grande. Após o final da carreira, eles permaneceram amigos. Trabalharam na Prefeitura de Niterói como professores em escolinhas pela cidade. E curtiram muito a vida juntos. No enterro, Marinho lembrou quando os dois se lançaram "na música". Em 2006, eles foram contratados por produtores alemães para cantarem clássicos de Jorge Ben Jor em festas durante a Copa de 2006. Jairzinho, Brito e Roberto Miranda faziam parte do grupo. – Aquilo foi uma farra. Nunca pensei em ser cantor. Até isso fizemos na vida. Cantávamos em playback em praças lotadas. Ficávamos nos olhando e rindo com tanta alegria – lembra Marinho ao se levantar para fazer a última oração com familiares de Altair.
No futebol, eles costumavam dividir o quarto nas concentrações. Nas viagens depois do final da carreira, gostavam de fazer o mesmo. Em 2013, eles se hospedaram juntos em Brasília antes da abertura da Copa das Confederações. Na ocasião, Marinho disse que tomou o maior susto da vida. Altair já dava sinais do mal de Alzheimer, diagnosticado logo depois por médicos.
Ao deixar Niterói, o ex-jogador foi avisado pelos familiares de Altair, que o amigo andava esquecido. No início da tarde, o ex-lateral esquerdo disse que iria passar um tempo na portaria do hotel. Uma hora depois, como o amigo não chegava, Marinho desceu preocupado e não o encontrou. A polícia foi chamada. Somente no final da noite, Altair foi encontrado perdido numa das ruas da capital federal.– Foi um susto imenso. A partir dali, a nossa convivência foi diminuindo. Nos últimos três anos, ele parou de falar. Mas sempre o visitava. Amigo é para sempre. É para tudo – disse Marinho, sentado ao lado do filho, aguardando o início do cortejo que reuniu apenas 18 pessoas.
O velório foi calmo. Jair Marinho centralizava as atenções contando passagens da longa amizade. O clima ameno só foi quebrado às 16h21 quando dois homens entraram nas capelas de moto. De capacetes, eles passaram pelo portão, deram duas voltas no terreno em cima da moto assustando os presentes no único velório do cemitério. Sem falar com ninguém, a dupla deixou o local em alta velocidade. O cemitério fica numa região violenta de Niterói.
– A amizade deles era linda. O seu Altair quase não reagia mais. Mas quando o Jair Marinho chegava lá em casa, os olhos dele brilhavam de novo – conta Eluana Galvão, 43 anos, que cuidou de Altair na última década.
Ex-empregada doméstica da família, ela levou o ex-jogador para morar em sua casa em São Gonçalo, em 2013. A mulher de Altair morreu em 2009. A única filha do casal, em 2002.
– O importante é que o Altair foi bem assistido esse tempo todo. Não vale lembrar dos problemas. Vamos falar das conquistas e das alegrias que vivemos juntos – disse Jair, filho de Marinho, pouco antes do corpo deixar a capela.
No dia 31 de maio, Altair foi internado em São Gonçalo por causa de um problema pulmonar. Ele não conseguiu se recuperar e morreu nesta madrugada.
– Ele era o meu ídolo. Por isso, fico muito triste ao ver que o Fluminense, único clube dele durante toda a vida, não mandou nem uma coroa de flores. Nem os representantes da torcida vieram. Não sabemos cuidar da nossa história – lamentou o aposentado Ivan Mira, 73 anos, pouco antes de entrar no carro de um amigo após o sepultamento.
O corpo de Altair foi sepultado às 17h22 numa gaveta baixa no cemitério do Maruí, o mesmo onde Zizinho, craque da Seleção nos anos 50, também está enterrado.
FLUMINENSE REFORÇA LUTO OFICIAL E DIZ QUE “ FOI AVISADO EM CIMA DA HORA
Após a publicação da reportagem, o Fluminense divulgou nota oficial na qual explica a ausência de um representante no enterro ou de envio de uma coroa de flores. O clube alega que foi avisado em cima da hora. O Tricolor reforça as manifestações nos perfis oficiais e o luto de três dias e o pedido à CBF de um minuto de silêncio em todos os jogos da próxima rodada do Campeonato Brasileiro.
– Afirmar ou mesmo fazer crer que o clube nada fez é injusto. O clube foi avisado muito em cima da hora, como já foi dito por alguns de seus amigos próximos, ex-jogadores. O aviso do falecimento chegou por volta das 11 horas. As informações sobre o velório chegaram ainda mais tarde. E nosso Altair foi enterrado às 15 horas (nota da redação: o enterro terminou às 17h30). Não sabemos se por problemas de comunicação ou decisão da família, o fato é que a informação nos tardou – diz a nota.


@FluminenseFC  " Altair Gomes de Figueiredo, um dos maiores nomes da história do Fluminense, nos deixou na manhã desta sexta-feira, aos 81 anos. O clube decretou luto oficial por três dias e solicitou à CBF que se respeite um minuto de silêncio em todas as partidas da 14ª rodada do Brasileiro."
13:28hs do dia 09/08/2019


NOTA OFICIAL DO FLUMINENSE FC
Em nota, o Fluminense rebateu a matéria publicada pelo site e explicou a situação. Confira na íntegra:
“A reportagem do Globo Esporte sobre a cerimônia de despedida de nosso ídolo Altair cometeu o equívoco de acusar o Fluminense sem ter procurado o clube para uma correta apuração sobre todas as homenagens que estão sendo prestadas.
Ao receber a triste notícia do falecimento de nosso campeão, o Fluminense decretou luto de três dias, devido a quem, como ele, ajudou a construir a honrosa história de nosso clube. Além disso, a bandeira foi hasteada a meio mastro, em sinal de luto somente dedicado aos que verdadeiramente dignificaram o clube. Nas redes sociais do Fluminense, prestaram-se as homenagens mais do que merecidas. À CBF, o Fluminense encaminhou o pedido para que toda a rodada do Campeonato Brasileiro preste um minuto de silêncio, o que foi concedido pela entidade. Avisamos a imprensa, inclusive ao GE, autor da imprópria reportagem, às 11h15. No intuito de que ele fosse honrosamente lembrado.
Afirmar ou mesmo fazer crer que o clube nada fez é injusto. O clube foi avisado muito em cima da hora, como já foi dito por alguns de seus amigos próximos, ex-jogadores. O aviso do falecimento chegou por volta das 11h. As informações sobre o velório chegaram ainda mais tarde. E nosso Altair foi enterrado às 17h. Não sabemos se por problemas de comunicação ou decisão da família, o fato é que a informação nos tardou. Fazer os leitores acharem que nada se fez é um erro. Mais: ressoa uma intriga desnecessária em momento que deve ser de contrição e total respeito à dor de sua família e de seus inúmeros fãs de todas idades. Que descanse em paz nosso craque e nossos mais profundos sentimentos à sua família”.

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