quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Celso Barros: "A gestão do Peter é repleta de erros"

Por Fagner Torres, do Blog das Laranjeiras
Ele é Celso Barros, o terceiro entrevistado da série “Os Presidenciáveis”, no BLOG LARANJEIRAS. Prestes a completar 64 anos, o médico retorna a cena do futebol concorrendo à presidência do Tricolor pela chapa Todos Pelo Fluminense. Nesta nova missão, é apoiado pelos ídolos Washington Coração Valente e Deco; por torcedores ilustres, como o cantor e compositor Ivan Lins; além de nomes conhecidos da política tricolor, como ex-dirigente Alcides Antunes. Confira abaixo as respostas sobre as polêmicas e os planos do candidato.BLOG LARANJEIRAS – O Fluminense, embora tenha saído da UTI no tocante à parte financeira, ainda é um clube difícil de administrar. Sendo assim, por que pretende ser presidente? Qual será a diferença entre as gestões Peter Siemsen e Celso Barros?
Celso Barros – A diferença essencial será a estabilidade. A gestão do presidente Peter está marcada pela personalidade dele, completamente instável. Outra diferença será a existência de um planejamento e de um projeto para o futebol, que considere o marketing como instrumento fundamental de captação e o desempenho do time como ferramenta essencial de marketing. A gestão do presidente Peter nesse quesito é o caos. Desde a saída da Unimed-Rio, que, na verdade, era o marketing do Fluminense, o clube não conseguiu encontrar um modelo eficaz. Outra diferença será a gestão do futebol, que no período do presidente Peter sempre foi tumultuada. No tempo da Unimed-Rio, a nossa participação deu algum equilíbrio e experiência.
Uma crítica da oposição à atual gestão é que, supostamente, ela não enxerga o clube com seu real tamanho. E qual é o tamanho do Fluminense para Celso Barros
O tamanho dos campeonatos que conquistamos juntos. O tamanho da história de glórias e dos ídolos que no futebol e nos esportes olímpicos fizeram o Fluminense, que fez de nós torcedores apaixonados.
O senhor foi afastado e enfrenta questões judiciais em virtude do período à frente da Unimed Rio. Foi com ela que o Fluminense conseguiu se reerguer depois de passar pelo momento mais difícil de sua história, no entanto, num modelo de parceria controverso para muitos. Como se comportará o Celso Barros, presidente do Fluminense, sem o aporte financeiro da cooperativa de médicos? Se eleito, trará dirigentes que estão sumidos do noticiário tricolor nos últimos anos de volta às Laranjeiras?
Na Unimed-Rio fui vencido pela política interna, que já vinha tentando ocupar a presidência há tempos. Venci várias vezes. A Unimed-Rio patrocinou o Fluminense porque eu estava na presidência da cooperativa. Por isso, soa estranha a dúvida sobre como eu me comportarei como presidente do Fluminense sem a Unimed-Rio. Para conceder e manter por 15 anos o patrocínio da cooperativa ao Fluminense, nós elaboramos um projeto de marketing esportivo, que tornou o patrocínio vantajoso para o clube e para a patrocinadora. Um modelo que foi case no mercado de marketing esportivo. Com um projeto igual, teremos patrocinadores, sem perder a dignidade ou sair pedindo esmolas, como tem feito a diretoria atual.
Em caso de vitória no pleito, Washington e Deco trabalharão com o senhor? Caso sim, em quais cargos e funções? Como o senhor enxerga a estrutura ideal do Departamento de Futebol do Fluminense? Abel Braga será o treinador a partir de janeiro de 2017?
Nada conversamos sobre a composição da equipe. Os apoios que tenho deles é uma honra pra mim, é fruto do reconhecimento deles da capacidade que tenho para fazer um bom trabalho. Uma estrutura com poder de decisão, experiência, conhecimento de futebol e, principalmente, do Fluminense. Longe de mim passa a proposta de ter um colegiado decidindo. Isso no futebol, pela dinâmica, é impossível. E não se pode esquecer da importância do futebol de base, de formação.
Há algum tempo, a política do clube vive um clima bélico. Quem critica o desempenho é tachado de “anti-tricolor”. E quem concorda com tudo é ridicularizado. Se eleito, como o senhor pacificará o Fluminense em busca de objetivos ainda não alcançados?
O clima bélico está no Brasil todo, e no Fluminense é ajudado pela personalidade confusa do presidente e bélica da dupla Mário Bittencourt e Ricardo Tenório. Mas o Fluminense é, historicamente, um clube que tem uma tradição diferente. As três cores traduzem a tradição de paz, esperança e vigor. Pacificar será fácil.
O senhor não acha que, nos últimos anos, o Fluminense priorizou muito o crescimento estrutural, que era necessário, mas negligenciou a qualidade dos times colocados em campo?
O insucesso no futebol não é fruto de uma opção de investimento. Nunca se gastou tanto no futebol profissional do Fluminense como nos últimos tempos com Mário Bittencourt e Peter Siemsen no comando. Os dois têm o mesmo estilo perdulário.
Xerém ainda é criticado por produzir poucos jogadores extra-classe em comparação a outras bases. O último foi Marcelo, um lateral, há dez anos. Não acha que investimos muito em resultados e marketing e pouco na formação de craques?
O futebol de base tem, sim, gerado bons jogadores. O problema está em que perdulário como é o presidente, os jogadores não duram. Eles fazem parte do fluxo de caixa do Fluminense, e não de um projeto de investimento em imagem.
Nos últimos anos, o Fluminense dependeu muito de empresários, com investimentos em jogadores questionáveis, que não deram o retorno esperado. Qual o caminho para o clube não ser refém e não errar tanto nas contratações, como tem ocorrido?
Inteligência e experiência em futebol. A falta de planejamento, os gastos e contratações feitas no impulso geram os problemas.
Sobre o Marketing já citado pelo senhor no começo da entrevista, recentemente o Fluminense firmou contratos pontuais com a Caixa e com a TCL. Como ser mais agressivo, de modo a alavancar receita e formar times campeões, em um cenário de crise econômica? O senhor já tem planos concretos para apresentar à torcida?
Por que o patrocínio da Unimed-Rio durou tanto tempo? Sem dúvida, porque eu, um tricolor, estava à frente, mas com um projeto que tornou o patrocínio vantajoso para a cooperativa e cooperados. É só ver o que era a Unimed-Rio no início e hoje. Sem um projeto de marketing esportivo que estimule os patrocinadores pelo retorno financeiro, o Fluminense implora, bate de porta em porta e se sujeita a qualquer condição. Tem sido assim, desde 2014.
Como vê a relação entre clube e DryWorld? Há reclamação principalmente quanto ao fornecimento. O senhor crê que a aposta foi equivocada, por mais que o clube tenha lucrado no valor do contrato?
O Fluminense é completamente opaco, por decisão do presidente, que precisa da opacidade para esconder as apostas erradas. Tínhamos a Adidas. Lembro que fomos cobiçados pela Nike no tempo da Copa do Mundo, mas terminamos na DryWorld. Um ponto bom para examinar nas contas do Fluminense é saber quanto pagaram de comissão e a quem pela troca.
Em relação ao Sócio Futebol, não acha pouco que a atuação interna deste segmento se limite ao voto? O senhor possui planos para este público? Caso sim, explique.
Quem é sócio e participa das eleições deve se sentir parte das decisões. Dar descontos em compras, vantagens na compra de ingressos não é suficiente. O clube precisa ser transparente para os sócios, nas contas, nas contratações.
Se eleito, o senhor herdará o futebol fora das Laranjeiras, mas com o CT ainda precisando de obras. Sabemos que o projeto é tocado solitariamente pelo Pedro Antônio. Como é a sua relação com ele? Pretendem seguir juntos?
Tenho conversado com o Pedro Antônio. Ele tomou as rédeas do projeto e fez acontecer. Mas há outro ponto que precisa ser abordado no caso do CT: os custos de manutenção. O Fluminense precisará estar pronto para eles. É evidente que os custos com treinos subirão muito. Mas o CT novo é uma conquista que dará conforto aos jogadores, e esse fato estará nas negociações para contratar jogadores e comissão técnica.
Sobre as Laranjeiras, qual o destino o senhor buscará para a ociosidade do espaço, após a mudança em definitivo para o Centro de Treinamento? O senhor não considera a possibilidade de adequá-la para jogos de menor porte, sem abrir mão do Maracanã?
Não tem como, pelo nível de reformas que serão necessárias e pela dificuldade certíssima de não conseguir autorização pelo impacto ambiental e proximidade com o Palácio do Governo. O espaço não ficará ocioso, porque Laranjeiras é a historia do futebol do Fluminense, que se confunde com a história do futebol. E em Laranjeiras funcionam duas outras unidades de negócios do Fluminense: o clube social e os Esportes Olímpicos. Eles serão readaptados no espaço com o objetivo de gerar novas receitas.
Em relação ao Flu-Samorin: qual é a análise e a necessidade esportiva que o senhor vê para essa parceria?
Tenho muita dúvida e prefiro avaliar pela ótica da exposição da marca no exterior. Sem custo ou com retorno que valha a pena, é possível manter. Mas tenho dúvida se o projeto não é um equívoco. Mais um do presidente Peter.
Pessoalmente, defendi o presidente Peter em medidas tomadas contra a Ferj nos últimos anos. Como enxerga essa relação? É possível o diálogo ou a tendência é abarcar cada vez mais clubes alinhados com uma postura moderna, esvaziando os estaduais?
O presidente Peter, perdoe-me a franqueza, não tomou medidas contra a Ferj. Fez muito barulho, criou confusão, mas medida concreta, que favorecesse o Fluminense ou mesmo o futebol carioca, nenhuma. A Ferj existe e o Fluminense precisa saber lidar com ela em favor do futebol carioca.
No entanto, em relação à CBF e Globo, o presidente Peter se mostrou conservador e foi a favor da manutenção do status quo. Como Celso Barros se posiciona frente às mudanças necessárias em nosso futebol?
Novamente, perdoe-me, mas, na relação com CBF e Globo, Peter Siemsen tem sido subserviente. O Fluminense nada recebeu dessa relação dele com a Globo e a CBF que todos os demais clubes não tenham recebido. Sou a favor de mudanças no modelo de governança dos clubes e é o que eu proponho para o Fluminense.
Sobre as organizadas: na Alemanha, cuja Liga tem a maior média de público do mundo, as organizadas são tratadas como uma espécie de patrimônio, diferente da criminalização que ocorre no Brasil. No Fluminense, atualmente elas não são nem sombra do que foram no passado, muito mais ativas nas decisões e, muitas vezes, fazendo a diferença nos jogos. Como se dará essa mediação na sua gestão? O senhor é favorável ao fomento das TOs?
Não discrimino torcedores e não tolero violência e uso da marca de um clube para a baderna. Respeito os torcedores de organizadas. Sinto-me como eles com o mesmo direito de torcer, de vibrar, de me entristecer.
Por fim, qual a mensagem final que Celso Barros deseja deixar aos tricolores?
Uma mensagem simples: vale a pena trabalhar, participar, vibrar pelo Fluminense e eu tenho um desejo enorme de ser presidente para continuar o trabalho que realizei por 15 anos, em favor do time e do clube. Preciso dos votos dos sócios para chegar lá.

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